segunda-feira, 8 de agosto de 2016

30/11/2015 FORMAÇÃO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA PARA CONSELHEIROS DA COMUNIDADE EM 23 E 24/11/2015


O Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) por meio da pessoa do Corregedor do Estado de Santa Catarina sr. Alexandre Takaschima e o Desembargador e Presidente da Confederação Nacional de Conselhos de Comunidade Dr. Luiz C. Medeiros planejaram e se fizeram presentes ao longo de toda a capacitação coordenando-a no sentido de preparar os conselheiros para atuar junto ao Sistema Penal.
Segundo eles, é preciso construir um modo diferente de trabalhar junto ao preso no Brasil. “O joio precisa ser separado do trigo, mas esse joio precisa ser tratado e não abandonado”, disse o Dr. Luiz Medeiros. De modo geral, os palestrantes versaram sobre o papel dos conselheiros no Conselho da Comunidade que precisa atuar como uma ponte entre a sociedade e os apenados.
Foi trabalhado ao longo da capacitação o olhar que a sociedade dirige ao crime e como ela lida com o criminoso. A massa, a população dirige a mágoa, o sentimento coletivo de vingança, o pedido de justiça com aquelas pessoas que cometeram o crime. Para juízes e pessoas que trabalham com a justiça é difícil lidar com o clamor popular quando acontecem crimes hediondos pela pressão que esses fatos por si só já desenvolvem em todos. Por isso, há uma ciência, a criminologia que se ocupa há muitos anos em estudar e debater dento dos parâmetros técnicos essa questão e em conjunto com diversas experiências, ensina que "olho por olho, dente por dente não é a solução" para constituir uma sociedade menos violenta. Se fosse assim, os índices de violência reduziriam e no caso do Brasil, só fazem aumentar.
Um ponto importante discutido por aqueles que palestraram em diferentes momentos é que há uma superpopulação no sistema carcerário no Brasil que está em 4o lugar no número de vagas e é campeão mundial no surgimento de novas vagas. Não estamos gerando condições de segurança. A prisão não pode ser a primeira e nem a única alternativa. É fundamental que os conselheiros olhem para isso de maneira crítica.
Fundamentalmente, aprendemos que conselhos de comunidade são associações de direito privado. Ainda temos que percorrer um longo caminho em busca de institucionalidade. Os Conselhos surgiram com as políticas públicas recentes em que a sociedade civil reivindicou direito a participação em diversas instâncias sociais. Temos uma confederação nacional: a Confederação Nacional dos Conselhos da Comunidade.
Um conceito amplamente defendido, exposto e trabalhado na capacitação foi sobre a relação entre a Justiça Restaurativa e a Justiça Tradicional. A justiça tradicional pune, a justiça restaurativa procura desenvolver um olhar abrangente sobre o território onde as pessoas envolvidas e as suas relações são consideradas amplamente. A justiça restaurativa trabalha com a mediação e necessita do trabalho em rede. Sob essa perspectiva, é preciso criar novos espaços de controle social que levem a emancipação humana. Como pode voltar a ser humano em uma sociedade não humana?
No Brasil temos uma situação difícil a encarar: temos um sistema de justiça predominantemente encarcerador e ainda jovens policiais estão morrendo e quando sobrevivem, estão matando.
Diversos palestrantes que atuam no sistema prisional estadual como agentes penitenciários citaram muitas vezes e indicaram o livro: Comunicação Não Violenta de Marcio Rosemberg. Segundo eles, esse autor ensina e ilustra como abordar a raiva sem matar a outra pessoa, sem violentar. Ensina a escutar o que está acontecendo no interior da pessoa. Livro indicado para quem trabalha como Agente Penitenciário, Conselheiro da Comunidade porque ajuda a se comunicar com o apenado de crimes de morte. Como conversar com o criminoso de morte sem querer matá-lo? "O que você sentia quando matou? O que você sentia quando estuprou?”
Um dos pontos fortes foi a abordagem da questão da mulher grávida e parturiente nos presídios, a mulher que dá a luz algemada e acorrentada, já as crianças que ficam até os seis meses ou um ano com a mãe e depois vão com a família ou vão para adoção. A questão dos transgêneros em alas masculinas e da violência que sofrem (abusados sexualmente, trabalho para colegas de cela, etc.), o alto número de detentos utilizando psicotrópicos, entre outros foram assuntos que deixaram muitos questionamentos no ar.
Muito foi discutido sobre as atribuições de Conselheiros da Comunidade: a) essencialmente realizar visitas mensais ou bimestrais aos presos e passar pelas áreas de convivência do presídio ou da unidade, b) realizar conversas com eles para averiguar a situação de vida familiar, condições dentro do presídio, necessidades, etc. c) receber denúncias de abuso que precisam de encaminhamento e uma das possibilidades é a Defensoria Pública que foi apresentada nesta formação.



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